Ayurveda e Medicina Ocidental
1a. Parte - Ayurveda e Medicina Ocidental
Obs.: Essa primeira parte desse texto refere-se a uma tradução e adaptação de Mestre Arnaldo de Almeida do seguinte livro:
SINGH, Kishore. Rajasthan – a la carte. Jaipur: Department of Turism, Art & Culture, 1999. p. 120-121 e 126.
Yoga, Massagem, cura natural e centros de meditação – corpo saudável em mente saudável.
Em uma sociedade muito bem estruturada como a do Rajasthan (Índia), era esperado que houvesse sistemas que promovessem a saúde do corpo e da mente, assim como métodos de prevenção de doenças e preservação da longevidade.
Os palácios reais ofereciam cursos relacionados a esses sistemas, nos quais práticas de manutenção da saúde eram ensinadas, com base nos sistemas tradicionais, que vinham prevalecendo no país durante séculos, e, ainda, utilizando de técnicas tradicionais com novos sistemas oriundos do Oeste da Ásia. Havia Ashrams em que “vaids”, profissionais que trabalhavam com técnicas tradicionais de saúde da cultura muçulmana, e instrutores de Yoga e massoterapeutas apresentavam às pessoas os benefícios desses sistemas de saúde. As famílias reais, frequentemente, convidavam mestres de tais sistemas para treinarem pessoas em seus reinos para benefícios seus e dos súditos e isto se constituiu em um fator que colaborou para uma maior difusão desses sistemas tradicionais de saúde.
Esses métodos de cura e prevenção da saúde estão muito bem documentados nos textos indianos antigos, sendo tais textos baseados em exercícios físicos e mentais, acompanhados do uso de ervas naturais, manipuladas em fórmulas especiais.
Infelizmente, sob o regime britânico, essas práticas de saúde foram abandonadas, mesmo, cortadas, e permaneceram apenas nas vilas e tais trabalhos passaram a ser vistos como obra de charlatanismo, principalmente em função de os mestres que a praticavam estarem sempre ligados a correntes devocionais espirituais e as aplicavam juntamente com Pujas e rituais.
Como resultado dessas ações do governo inglês, tão contrário às terapias hindus tântricas, a popularidade desses sistemas tradicionais de saúde caiu imensamente e, em seu lugar, foi colocado o sistema alopático de medicina.
Embora os sistemas tradicionais de saúde hinduístas tenham passado a ser uma forma alternativa de saúde e tenham perdido sua proeminência, essa cultura, não somente sobreviveu, mas continuou a ser usada, pelo menos entre pequenos grupos que continuaram a acreditar em sua eficiência.
Em função de tais sistemas não estarem ligados apenas ao Rajasthan, eles também sobreviveram em outros lugares e, atualmente, passaram a ser reativados por toda a Índia e estão novamente ganhando popularidade. Esse aumento de popularidade tem também ligação com o fato de o Yoga hoje estar sendo considerado, pela Medicina Ocidental, como uma técnica de rejuvenescimento e com o fato de as pessoas do mundo ocidental estarem com horror dos antibióticos e esses sistemas tradicionais indianos de saúde não apresentam nenhum efeito colateral.
O modo de vida no Rajasthan é certamente livre de muito do estresse sofrido pelas pessoas que vivem em centros urbanos ao redor do mundo, pois a sociedade no Rajasthan está mais ligada a grupos familiares e a pequenas comunidades, vida essa que ajuda a se ter um cotidiano mais relaxado, algo tão importante para a mente. Assim as comunidades sempre estão encorajando a interdependência, em que as obrigações e responsabilidades são divididas e assumidas em grupo, o que fortalece um estilo de vida mais saudável.
(...)
Embora muitos dessas práticas tradicionais de manutenção da saúde tenham diminuído sua força nos últimos séculos, há atualmente uma forte reativação de seu uso, especialmente após a independência da Índia, com o surgimento de vários Institutos, nos quais tais práticas não só são oferecidas, mas, também, ensinadas.
2a. Parte – Observações sobre o conteúdo presente no texto de Singh
É muito significativo o texto de Singh, pois ele aponta para uma preocupação do governo e da população indiana em resgatar essa tradição milenar de saúde presente no Ayurveda. Há apoio governamentais para esse florescimento, algo bastante promissor para nós que também estamos mergulhados nesse resgate.
Como conclusão do texto de Singh, pode-se afirmar que, hoje, na Índia, as clínicas de Ayurveda são muito destacadas, muitas delas voltadas, principalmente, para turistas, mas os produtos do Ayurveda são muito procurados também pela população indiana, havendo, então, muitas pequenas lojas de produtos do Ayurveda espalhadas por todo o país. Por outro lado, essa demanda pelo Ayurveda está colaborando para o aparecimento de uma produção em massa de seus produtos, o que, de alguma forma, foge aos princípios do Ayurveda tradicional, que tinha como escopo a produção local e “caseira” dos produtos pelos próprios mestres ayurvêdicos.
No entanto, apesar da pressão da Medicina Alopática e da indústria farmacêutica alopática, o Ayurveda ainda tem sua aceitação por grande parte da população, resistindo bravamente à globalização e à desestruturação das culturas tradicionais levada a cabo por esse movimento globalizante ocidental sobre as outras culturas do mundo.
Diferentemente do que aconteceu na cultura brasileira, na qual os raizeiros estão sendo extirpados e estão, hoje, colocados na clandestinidade, os Mestres do Ayurveda Tradicional Indiano ainda encontram seu espaço na sociedade indiana, principalmente nos centros menores, onde o processo de globalização ainda não está consolidado. Por outro lado há uma formação acadêmica médica (ocidental) e os grupos se dividem entre os médicos alopáticos, os “médicos ayurvêdicos acadêmicos” e os mestres do Ayurveda, estes últimos formados na tradição Gupta Vidya e não acadêmica.
Aqui, no Brasil, há um movimento em direção a essa cultura relacionada à manutenção de um estado contínuo de saúde com terapias e produtos naturais, inclusive pela própria Medicina Alopática. Esse movimento tem duas faces: uma de valorização de possíveis caminhos de recuperação da saúde por vias naturais, outro é o fato de que haja apenas uma apropriação e não um resgate daquela cultura milenar indiana, matando-a em sua raiz.