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As Vertentes do Tantra – Yoga Erótico



O Tantra nasceu na Índia Antiga junto às comunidades rurais e às pequenas aldeias e, desses grupos, se expandiu para os grandes centros e, muito posteriormente, se consolidou junto aos variados grupos da sociedade hinduísta. Sua natureza é rural, tendo seus princípios completamente fundamentados em uma visão de mundo estabelecida a partir da relação que essas populações estabeleciam com a Grande Mãe Natureza: por isso a sacralização dos rios, lagos (água como elemento vital para a sobrevivência e enriquecimento desses povos), montanhas e astros celestiais (Sol, Lua, estrelas... – a astrologia ainda é essencial aos hindus), plantas e árvores. Mahadevi – a grande mãe - com seios enormes seria a representação básica desses povos:

A Grande Deusa, senhora da vida e da morte, deve ter desempenhado papel fundamental no panorama religioso de uma civilização sedentária e agrícola como a do Vale do Indo. (...) o culto à Grande Deusa deve ter sido uma marca característica da religiosidade da civilização do Vale do Indo e entre outras obras achadas (...) destacam-se imagens femininas de grandes seios e umbigo acentuado que remetem à maternidade e à fertilidade (...) (ALBANESE, M. Índia Antiga. Barcelona: Folio, 2004. p. 16 e 21). (Série Grandes Civilizações do Passado).

A civilização antiga da Índia foi denominada pelos historiadores de drávida e os dravidianos se fortaleceram através de um sistema sócio-político-cultural matriarcal e democrático, diferentemente da maioria das outras civilizações, estas sempre baseadas em um sistema patriarcal ou totalitário. Nascidos de uma visão matriarcal da existência, os mitos dessa sociedade não seriam figuras ligadas à violência ou à guerra, o mito principal era a Grande Mãe representando a mãe natureza fértil e amorosa.

Essa é a raiz básica do Tantra: relação direta e intensa com as forças vitais presentes no mundo natural e uma visão sensível e amorosa do mundo, pelo seu cunho essencialmente matriarcal dessa civilização. Assim, em função dessa relação, foi surgindo inúmeros Sadhus (homens e mulheres - Maha Yogues meditativos), que foram intuindo variadas formas de integração com os elementos e forças naturais: a respiração profunda e consciente, a meditação e as variadas técnicas de purificação, integração e união foram se consolidando, frutificando, posteriormente, no Yoga e nas variadas técnicas de massagem e de limpeza energética, ativação dos Chakras e das Nadis. Bom lembrar aqui de que o vocábulo “Yoga” é constituído do radical “Yuj”, o qual significa união e a massagem tem um componente forte do toque, que propicia um processo de interação e harmonia e união (tato e contato).

Os criadores de escolas de Yoga - hindus e dravidianos - foram instituindo métodos que foram se cristalizando nas variadas ferramentas que levavam o Sadhaka a se integrar consigo e a perceber o fluxo de consciência e sabedoria cósmico, com o qual, através de seus Sadhanas tântricos, poderiam se sintonizar e nele mergulhar. Já os fundadores de escolas de Massagem – também hindus e dravidianos - foram criando determinadas técnicas, para que esse processo do “toque” fosse se consolidando século após século, surgindo, no bojo dessas buscas, a cultura terapêutica do Ayurveda. Em ambas as escolas (muitas das vezes elas estavam unidas) foram sendo delineados os princípios morais, denominados de Yamas e de Niyamas, os quais não se constituíam em princípios restritivos, mas em princípios de orientação e de aconselhamento.

No entanto, com o passar dos séculos, esses princípios foram sendo interpretados de variadas formas e passou-se a se entender o Tantra como apenas uma escola filosófica voltada para uma liberdade sem restrições, entendendo-se os Yamas e Niyamas como sendo princípios restritivos e, dessa forma, princípios não tântricos.

Criou-se, assim, o Tantra conhecido como de linha da esquerda, ou Tantra da mão negra, o Vamah Tantra, o qual se oporia ao Tantra da linha da direita e de mão branca, o Dakshnah Tantra. O Tantra da linha da esquerda teria princípios autenticamente tântricos: o da total liberdade. A sexualidade deveria ser vivenciada sem qualquer princípio restritivo, culminando no Yoga erótico, hoje com variadas nomenclaturas, tais como Kundalini Tantra Yoga, Yoga de Parceiros, Yoga do Amor, etc., e na massagem “sexual”, denominada de “Massagem Tântrica”, “Massagem do Amor”, “Massagem de Parceiros”, “Maithuna Massagem”, “Toque Divino Tântrico”, “Kundalini Massagem”, etc.

O Tantra da esquerda se fundamentou em três pilares: comer carnes, beber álcool e fazer sexo sem nenhuma limitação, opondo-se dessa forma, concretamente, ao Ahimsa (prática da não-violência), ao Saucha (prática de purificações) e ao Brahmacharya (prática da energia sexual com consciência) e, ainda, sustentando a ideia de que o Tantra não teria qualquer concepção espiritualista.

No entanto, alguns processos podem ser contestados no que diz respeito a esses pilares daqueles que se autoproclamam Vamahtantracharya (seguidores do Tantra de esquerda). Ao se sustentar a ideia de que a restrição alimentar, como o não comer carnes, estaria ligada ao princípio Ahimsa e, portanto, seria algo restritivo e não tântrico, esbarra-se em uma contradição fundamental. O raciocínio é o seguinte: o Tantra é liberdade, então, não faz sentido restringir opções alimentares. Dessa forma, comer carnes seria uma atitude tântrica. No entanto, se o princípio é o da liberdade e, assim, comer carnes seria algo natural, então, por que só comer carnes de alguns animais e não se comer carne do animal humano? Dessa forma, a liberdade não é total, há restrição: pode-se comer carnes, desde que esta não seja humana. Essa atitude, porém, cai em uma cilada: o especismo (acreditar que o ser humano é um animal superior aos outros) e o Tantra – de esquerda ou de direita - não seria especista.

Outra contradição: o Tantra buscaria o Samadhi via desintoxicação, para ativação dos Chakras, das Nadis e para a ascensão da energia Kundalini. Mas e o álcool? Seria um elemento purificador? Beber álcool contrapõe-se – sim – ao Niyama Saucha, mas obstruem-se as redes energéticas e isto não é uma atitude tântrica. O Yoga erótico e a massagem sexual culminariam no ato sexual, pois a liberdade tem de ser exercida. No entanto, cabe-se indagar: “qual o objetivo dessa proposta: prazer pelo prazer, gozo pelo gozo, busca do Samadhi?” A prática desse Yoga e dessa massagem pode levar a certos desbloqueios, sim, mas se o que se busca, primordialmente, é o Samadhi, então quais os compromissos assumidos para que esse estado se realize? Ainda, nova contradição: fazer sexo sem nenhuma restrição. Bem e quanto a lei do Karma? A concepção de outro ser, como fica? Caso se evitar a fecundação, está-se em um processo restritivo. Então não há liberdade total. Há restrições e restrições não fazem parte do Tantra Vamah (de esquerda).

Quanto a se pensar que o Tantra não tenha princípios espiritualista, então, não faz sentido agir de forma natural, pois a busca de se ser natural é caminhar em sintonia com o fluxo dhármico de harmonia, algo em comunhão com o princípio fundamental que norteia o Universo: Purusha – a força espiritual. Qual o processo natural do Yoga erótico e da massagem sexual?

O Vamah Tantra pode se opor veementemente ao que ele denomina de Tantra da mão branca ou da direita – o Dakshnah Tantra, mas não consegue fugir de contradições em suas posições, que, na verdade, apenas se baseiam em fazer oposições e não em ser moral, e ser moral faz parte de todo indivíduo que busca ser consciente, alerta e desperto, princípios básicos do Tantra antigo da Índia.

Por tudo isto, pode-se concluir que o Vamah Tantra se desmorona em suas próprias bases, se constituindo apenas em uma forma de contestação anárquica, de prazer pelo prazer, do gozo pelo gozo, sem nenhuma relação com princípios éticos, responsáveis e conscientes. Dessa forma, não se constitui em uma escola concretamente moral e norteadora de uma ação no mundo consciente e construtiva. No que diz respeito à prática do Yoga erótico e da massagem sexual, ela tem demonstrado ser apenas uma fórmula de escape de impulsos sexuais, sem uma ligação com o caminhar de um processo de Vida Yogue.

O Tantra, na sua essência, não é nem Dakshnah e nem Vamah, o Tantra é uma filosofia comportamental, moral, espiritualista, amorosa, não-violenta (matar animais é uma violência), é uma filosofia nascida no bojo do matriarcalism o, onde impera a sensibilidade, a afetividade e o amor. Admirar, agradecer, doar, reverenciar e respeitar: Tantrismo. Agora, fazer sexo sem nenhuma consciência, comer carnes, sem qualquer ética, beber álcool pelo gozo que seus efeitos propiciam, isto pode ser denominado de qualquer coisa, menos de caminhos tântricos.

Quanto às linhagens de Sadhus Vamahcharyatantrik, mesmo que sejam de escolas antigas, essas escolas caminharam em um sentido outro que não o do Tantra tradicional, pois, ao afirmar que o “divino” está presente em tudo e em todos as ações e que, por isso, o ato de comer carnes, beber álcool e fazer sexo sem restrições seria algo sagrado, está-se fugindo da segunda parte do corolário tântrico: “você é livre para agir da forma que quiser, mas você não é livre para fugir das consequências de suas ações”. Para nós, essa segunda parte (em negrito) é que é a fonte das linhagens Vamahtantrik e é aí que o erro é cometido, que a interpretação é contaminada, contaminada por um pensamento do ser humano comum, ou seja, o de se agir de forma inconsequente, sem consciência e isto não é Tantrismo.

Buscando a ampliação de nossa consciência, o Sistema Shivam Yoga – seu Mestre e seus discípulos – se regojizam em estar no caminho do que entendemos ser o Tantra e sua raiz: feminina, amorosa e espiritual. “Qual a nossa linhagem? Resposta: Tantrismo Tradicional Indiano e ponto final.

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